Entrevista para o site Olostwords

Larissa C. G. Oliveira
8 min readJun 9, 2024

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Olá, pessoas, tudo certinho?

Hoje trago aqui um pouco da minha participação no site Olostwords, de Aline Goettems Picoli, ou apenas Line, em uma entrevista realizada por ela, a qual tive a honra de participar. Foi bastante divertido, para mim, elaborar respostas à entrevista, as perguntas foram criativas e satisfatórias. Eu as respondi ainda em um período pré-lançamento do meu primeiro livro, Corpo estrada, e nela se encontram alguns relatos também no meu processo de escrita e de publicação. Para acessá-la no próprio site, é só clicar no grifo adiante: entrevista Olostwords.

Abaixo trago também uma transcrição:

1 — Qual foi sua inspiração para começar a escrever?

Desde criança bem pequena por algum motivo já anunciei para os meus pais que a escrita estava nos meus planos futuros do que ser quando crescer (embora obviamente eles pensaram na época que era algum tipo de insensatez passageira), mas posso dizer que, além desse desejo, foi uma série de fatores que me inspiraram a apostar na escrita. Um deles foram professores, que durante toda a minha formação, desde o maternal ao final do ensino-médio e faculdade, ressaltaram a qualidade da minha escrita e a minha capacidade de me desenvolver nela. Nisso eu vejo como é importante que se reconheça em voz alta para a uma criança que ela tem qualidades e capacidades. Outro fator foi a necessidade de elaborar coisas que não tem nome, mas que precisam falar, e que veio com tudo durante o ensino-médio escolar, e, principalmente, durante a pandemia de Covid-19.

2 — Quais autores ou obras influenciaram seu estilo de escrita?

Uma das minhas maiores influências, um autor com quem vim aprendendo bastante, é George R. R. Martin, gosto bastante de como ele constrói e desconstrói identidades e conflitos nos universos complexos que ele cria, há sempre algo a ser percebido nas sutilezas da escrita dele e aprendi muito com as produções do autor.

Também admiro bastante autoras como Margaret Atwood e Ursula K. Le Guin, pela grande astúcia social e política na escrita delas que me cativou desde o primeiro livro de cada com o qual tive contato e com as quais aprendi bastante, elementos que eu também sigo na escrita. E, por fim, posso dizer que Clarice Lispector me marcou bastante desde a pré-adolescência, adoro a forma magistral com a qual ela torce e explora as palavras e a própria existência nas obras dela.

3 — Como você lida com o bloqueio criativo?

Acho que é importante o ditado “feito é melhor que perfeito”, e que o que é feito não é necessariamente a versão final e há sempre o que melhorar. Em caso de alguma paralisação é interessante parar e tentar entender quais são os impasses existentes, para então pensar quais caminhos alternativos é possível seguir e descobrir o que funciona melhor para cada pessoa. Acredito que todos os autores passam por tentativas e erros para descobrir seu próprio processo de produção, e essa é uma das partes interessantes do trabalho de escrita, descobrir como lidaremos com ele no cotidiano, que é onde a literatura (leitura e escrita) se realiza de fato.

4 — Quais desafios você enfrentou durante sua jornada como escritor(a)?

Acredito que os desafios foram mais que constantes, sobretudo nesse meu início do meu caminho mais oficializado na escrita (com publicações em revistas, antologias e a publicação do meu primeiro livro). Esses desafios aparecem no ato de gerenciar os projetos, o tempo, a rotina, pesquisar, reescrever e revisar os materiais incontáveis vezes, mas talvez o maior desafio nos últimos tempos nem tenha sido necessariamente a escrita, mas como me comunicar sobre ela, como falar com os outros sobre isso, tanto no âmbito editorial, que foi desafiador na edição do meu primeiro livro, pois, na hora da tomada de certas decisões sobre diagramação, que por questão tempo e demanda externa de produtividade, infelizmente não saíram como planejado, como também em como me comunicar com as pessoas em geral sobre o livro, algo que eu não tinha muitos parâmetros de longa data, já que durante alguns anos eu não via tantos autores falando dos próprios livros, mas mais terceiros comentando sobre obras.

Na pré-venda do meu livro de estréia, Corpo estrada, eu tive que me desenvolver muito no marketing para conseguir alcançar pessoas que pudessem acreditar e apoiar o projeto durante o financiamento coletivo. Foi árduo, pois eu, como um bom “marinheiro de primeira viagem”, cometi mais erros do que eu gosto de lembrar tentando falar com as pessoas, mas aprendi bastante com eles e também foi interessante ter contato com o que elas queriam saber da obra, ou o que eu poderia falar sobre ela e como, já que estava apresentando sobre o livro e não podia nem queria dar muitos spoilers. Quando eu encontrei algo um pouco mais divertido de elaborar para as publicações do instagram pelo canva, por exemplo, então eu consegui me desenrolar mais calmamente e até artisticamente ali e nas dimensões textuais e audio-visuais da divulgação. Ao fim felizmente consegui cumprir com a meta do financiamento e foi interessante estabelecer, aos poucos, laços, por causa desse investimento, tanto com leitores como com outros escritores, e perceber que nossa força está na coletividade, que não vem com menos desafios, mas que tem talvez recompensas mais calorosas, e que essa força também não está numa competitividade sem fim muito estimulada em nosso tempo e talvez mais incentivada ainda entre profissionais da literatura.

5 — Você já teve experiências significativas com seus leitores? Alguma história que gostaria de compartilhar?

Como o lançamento oficial do meu primeiro livro ainda irá acontecer (será dia 04/05/24, e estou escrevendo isto dia 28/04/24) então talvez eu não tenha muitas referências, mas ao ler essas perguntas veio-me à mente boas lembranças de pessoas inesperadas ou não comentando que se emocionaram com um conto, outras que o acharam leve e bom de ler, ou que conseguiam sentir as sensações evocadas por ele, comentários vindos “do nada” em conversas privadas, outros em sessões de comentários onde eu postava antigamente (medium e wattpad), ou ainda em conversas com pessoas próximas, que tiveram acesso antecipado a alguns contos do livro, rs. Acho que eu gosto dessas conversas, nelas eu percebo como uma mesma palavra pode significar infinitas coisas, que o que os contos, poesias e escritos trazem a outras pessoas são, por vezes, coisas novas e únicas, e também acabo refletindo mais sobre as mensagens que se elaboram nesses escritos.

6 — Como é o seu processo de escrita? Você segue uma rotina específica?

Rotinas rígidas nunca foram meu forte, mas a escrita é também um trabalho então é bom que exista algo que possa enredá-la no dia-a-dia. No caso de Corpo estrada, por exemplo, cada conto teve um processo único, alguns eu fiz numa tacada só, sem planejamento, pois de alguma forma eles estavam prontos para sair e me emocionaram bastante no processo. Outros contos levaram meses de pesquisa, insights e elaborações. Acredito que o principal é reunir um pouco de tato para o que quer emergir na escrita ter sua própria voz, no meu caso, com uma disciplina que conflua com o que dá certo para mim.

7 — Qual é o impacto que você espera que suas obras tenham nos leitores?

A primeira palavra que me veio com essa pergunta foi “atmosfera”, em diversas obras que eu aprecio, desde literatura, artes áudio-visuais e até mesmo jogos (games), eu aprecio algo que tenha uma atmosfera própria em que eu consiga mergulhar. É algo nesse sentido que eu também espero que tenha um alcance aos leitores, de uma atmosfera própria em que o leitor também possa respirar.

8 — Quais são seus planos para o futuro? Você está trabalhando em algum novo projeto?

Eu planejo continuar explorando e me conectando com novos mundos, então sim! Estou trabalhando em novas “atmosferas”, mas elas têm seu próprio tempo, logo, não tenho muito além disso para dar de prévia. Além do mais, nesse momento de lançamento do meu primeiro livro, em que estou me preparando para celebrar coletivamente com outros autores que publicaram na mesma época, e com pessoas queridas a materialização desse sonho, e também estou feliz vendo que deu certo todo o meu planejamento de embalar os livros para envio, com brindes, caixinhas personalizadas e muito carinho envolvidos, acredito atualmente na frase “uma coisa de cada vez”.

Gostaria de deixar algum recado para os leitores do Lost Words, e para seus futuros leitores?

Leiam! Literatura é sobre conversa, ela não precisa estar distante das pessoas, nem estar em pedestais ou coisa do tipo, para ter seu valor. O verdadeiro lugar da arte é o cotidiano, a rua, a coletividade, o diálogo, as pessoas comuns e o extraordinário no ordinário. Na literatura há abertura para infinitas experiências e sonhos, e os sonhos são importantes para que novos mundos possam florescer.

Sobre sua(s) obra(s):

Sinopse: Em meio ao agreste paraibano, Dona Catirina abre a estrada para uma liberdade clandestina contra um passado obscuro. Do alto da morada dos deuses, no Monte Olimpo, Hera se confronta com seus anos à sombra do rei dos olimpianos. Em uma cidade ribeirinha, um grupo de crianças se aventura em um rio repleto de segredos. Esses são só alguns dos personagens e cenários presentes em Corpo estrada, uma coletânea de contos em que a escrita se mostra um caminho que permeia as trilhas da ficção, da fantasia e do realismo mágico, e que abre as portas para mundos diversos. Alguns deles não estão nada distantes da cultura popular brasileira, em releituras de figuras como Naiá, Saci e o Curupira, entre outros, que não são tão somente um folclore, mas a marca das histórias ancestrais que conversam com o nosso cotidiano e desafiam uma racionalidade que definiu a realidade como destituída de encanto, ao rebaixar os ‘outros’ — lugares, animais, plantas, gêneros e raças — àquilo que é útil para a exploração; uma herança colonial que este livro não ignora.

O corpo aqui não aparece como algo fechado em si, mas, em uma tensão entre formas humanas e não humanas, ele é caminho de relação consigo e com outros. Uma palavra de cada vez, como passos que se seguem um ao outro em uma estrada cuja paisagem muda aos poucos ao longo da caminhada, os contos desvelam corporeidades e relações em transformação. Ao evocar os subgêneros da alta fantasia e do realismo fantástico, Corpo estrada traça um caminho que explora a criatividade e as relações humanas, em uma trilha de passos ritmados pelas palavras que endossam as mais variadas formas de relação, conhecidas ou não, sem os quais novos mundos não podem desabrochar. — Compre aqui!

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